Nestas férias da Páscoa saímos novamente da terrinha, desta vez durante 15 dias! Como a minha colega de casa conhece gente importante, arranjámos um carro à borla – um Volkswagen Jetta! Mas tivemos de ir buscá-lo a Bucareste… à Porsche!! (Imaginem a pinta: 4 miúdas com mochilas e sacos-cama a entrar no stand da Porsche…)
Dia 1-3, 6-8 de Abril
Era suposto começarmos a viagem apenas no Domingo e passar essa noite em Bucareste, mas o nosso anfitrião em Bucareste via Couchsurfing disse “Epá, que pena só virem nesse dia, é que a minha festa de anos é no Sábado à noite e vou fazer um churrasco no jardim e vamos ter música ao vivo…” Não seja por isso, jovem! E assim fomos para Bucareste (eu e a Gintare) na Sexta-feira. Tivemos sorte e conseguimos fazer esses 350Km só com 2 carros! Quando a Vanessa chegou também, fomos para casa, onde fomos recebidas com um refeição deliciosa cozinhada pela mãe dele. Um luxo! No dia seguinte, fomos visitar a cidade (Parlamento e centro histórico, mas muito por alto) e quando a Inma chegou e a equipa ficou completa e… siga para a festa! A jam session começou, mas talvez por eu estar habituada ao nível da malta de Pombal com quem tive o prazer de cantar inúmeras vezes, aqui a coisa deixou um bocadinho a desejar… Malta mais nova e inexperiente, mas sem dúvida acolhedora e simpática, o que resultou numa noite bem regada de tinto, música, riso e memorável. Divertimo-nos imenso e, por isso, o dia seguinte foi para descansar, até porque o centro de Buchareste estava a 12Km e 2 transportes públicos de distância…
Dia 4, 9 de Abril
Saímos de Bucareste em grande estilo no nosso carro branco tão catita e fomos em direcção a Buzău, para ver os vulções de lama. É uma coisa estranha, parece que estamos na lua, só que é tudo super pegajoso em redor das crateras, onde borbulha uma fria lama cinzenta. Como é que os vulcões funcionam? Não faço ideia. Google it!
Para esta noite, a dormida era incerta, estava prevista para Piatra Neamț, mas não tínhamos conseguido arranjar quem nos desse alojamento ali. O plano era, então, tentar conhecer malta local que fosse caridosa e nos acolhesse. Loucura, não? Pois, isso também pensei eu. Estacionámos no centro e tentámos encontrar um bar, mas a busca estava a resultar infrutífera, pelo que perguntámos a dois rapazes que estávam sentaditos num banco de jardim a beber cerveja (o que por acaso é proibido) se nos podiam indicar um bar porreiro ali perto e eles decidiram ir mostrar-nos o bar. Metro de cerveja na mesa, conversa puxa conversa, até que nos perguntaram onde é que íamos dormir… “Por acaso não temos onde dormir, estamos a pensar dormir no carro…” E um dos rapazes ofereceu-se logo para nos hospedar!! Que sorte do caraças, nem queria acreditar que o plano tinha resultado! E dormimos então no quarto dele, numa casa tipicamente rural, muito fria e eu e a Inma dormimos em dois cadeirões, voltados um para o outro, pouco estáveis, que não nos permitiram ter uma noite de sono tranquila. Todavia, foi melhor do que dormir no carro!
Dia 5, 10 de Abril
Seguimos para norte, para ver o afamado Lacu Roșu (Lago Vermelho). A paisagem é de tirar o fôlego… a estreita estrada passa por entre ravinas altíssimas, que parecem querer engolir-nos, numa subida serpenteante até ao lago. A subida acabou por ser o mais elevado ponto de interesse, pois que quando chegámos ao lago este estava completamente gelado e não era imenso como o imagináramos. Ainda assim, um cantinho do mundo bonito de se ver.
Ao deixarmos o lago, decidimos seguir as indicações de dois amigos que tinham visitado a zona no dia anterior e que nos falaram de uma igreja maravilhosa que não podíamos perder. Indicações essas que vieram a provar-se erradas… metemo-nos por uma estrada de serra cheia de neve com o carrinho de cidade, com pneus de verão, que nos devorou uma ou duas horas de viagem, seguindo a uma velocidade muito reduzida, esperando que o carro sobrevivesse às agruras daquele malfadado caminho.
Foi realmente um alívio sair da montanha e ver civilização, para seguir depois viagem até Târgu Neamț para visitar uma citadela surpreendentemente bem recuperada, cuidada e rentabilizada. Visita feita, siga para Suceava! Em Suceava, bebemos umas cervejas em casa com o nosso anfitrião e o amigo e fomos dormir que o corpinho já só pedia repouso.
Dia 6, 11 de Abril
De manhã bem cedo tivemos de sair, porque o Bogdan tinha de ir trabalhar… Seguimos caminho e começámos a tour dos mosteiros da região, Bucovina, famosos pelos seus frescos nas paredes exteriores das suas igrejas. Vimos alguns deles – três ou quatro – e são realmente algo de único, penso eu; a paisagem circundante é bonita (felizmente que fizemos esta viagem numa fase mais avançada da primavera em que tudo é mais verdejante); contudo, entrar nas igrejas em si já não nos provoca nada de novo, pois que me parece que as igrejas ortodoxas por dentro são todas iguais.
Excepção para um dos mosteiros, cujo interior é em tons de verde e vermelho e não azul e vermelho como todas as outras que já vi até agora (e acreditem, já vi muitas).
Visita feita, nesta noite dormimos em Iași, onde vivem alguns colegas voluntários e assistimos a música ao vivo num bar chamado Taverna, uma banda muito porreira de nome Sukar Nation, que nos pôs todos aos pulos (com a ajuda de uma quantas Timișoreanas, a cerveja que sempre nos acompanha). E, claro, tinham de tocar esse êxito internacional que me persegue: “Assim você me mata”. Imaginem quantas vezes já me perguntaram o que é que a letra desta música significa…
Dia 7, 12 de Abril
Acordar não foi o melhor deste dia, a noite tinha sido dura… Mas ainda assim fomos dar uma volta para ver a cidade. Nada de impressionante, meia dúzia de edifícios interessantes, só que depois de ver toda a Roménia (ou quase, vá) já nada me parece muito diferente, já não é fácil de me impressionar. O que me impressionou foi a quantidade de igrejas que existem perto umas das outras, no centro, e observar os hábitos ortodoxos. As igrejas tinham colunas no exterior, para que mesmo na rua as pessoas possam ouvir a missa. Entrámos numa igreja – penso que a maior de todas – e era, surpreendemente, lindíssima, dourada, diferente e o coro estava a cantar quando entrámos. A sensação foi poderosa, mesmo para uma pessoa não religiosa como eu. A acústica era impressionante, consegui sentir as vibrações da música, foi um momento que prolonguei porque me senti muito bem ali. Vimos mulheres, com lenços a cobrir os cabelos, de um lado, homens do outro, uma ou outra pessoa sentada no chão, em prece – nas igrejas ortodoxas não há bancos como nas católicas, são totalmente vazias – e mesmo fora da igreja vimos pessoas sentadas a ouvir a missa. Todas as igrejas que vimos estavam rodeadas de gente neste momento, num movimento de fé que me impressionou.
Dia 8, 13 de Abril
De manhã, a Gintare, a Vanessa e a Inma foram à boleia para Chișinău, capital da República da Moldova, para no dia seguinte irem até Odessa, na Ucrânia. Eu, como quis poupar os 60€ que custa o passaporte, fiquei em Iași… Foi um bocado estranho, porque não tenho assim tanto à-vontade com os dois voluntários que vivem lá e a rapariga que vive com eles, nem a conhecia. Houve momentos em que foi extremamente aborrecido e até um pouco desconfortável, mas também passei bons momentos, como a tarde que passei com o André – sentados a apanhar sol em frente da casa e a beber umas cervejas, à conversa. Ou um serão de jogos com a Zoe (a rapariga que vive com eles) e o namorado.
Dia 9-10, 14-15 de Abril
Domingo de Páscoa ortodoxa. Belo dia para andar à boleia… ou não! Estávamos com receio de não arranjarmos boleia para Brăila, porque ainda são uns 250Km, por isso saímos de manhã bem cedo e eu acabei por ir com a Zoe e a Lise com o André. No final de contas, tudo correu muito bem, a primeira alma caridosa ainda nos perguntou se tínhamos dinheiro para comprar comida, pois se não tivessemos ele dava-nos; o segundo era um futuro padre; o terceiro era um casal muito simpático. E já está! Reunimo-nos no apartamento de umas colegas voluntárias em Brăila, onde já estavam alguns dos meus colegas de projecto e mais uns quantos, a casa parecia que ia rebentar pelas costuras! À tarde, como de costume, fomos visitar a cidade, que parece ter sido esquecida e abandonada, com tantos edifícios bonitos a cairem de podres e fomos ainda passear à beira do Danúbio. Agradável, mas muito sujo. Ainda não me consegui habituar ao lixo por todo o lado, é uma pena que as pessoas não tenham respeito pelo que é delas. E adivinhem o que fizemos nessa noite? Não, ainda não foi neste dia que fomos para os copos, nesta noite assisti a uma sessão incrivelmente interessante e estimulante em que as raparigas estiveram a fazer tererés umas à outras…
Dia 11, 16 de Abril
Dia de churrasco à beira do Danúbio! Atravessamos o rio de ferry para chegarmos à ilha onde íamos fazer uma churrascada. Comemos, bebemos, enfim, o normal num churrasco. Quando terminámos, fomos até um bar e esperámos por mais pessoal que ia chegar nesse dia e finalmente as minhas colegas de viagem regressaram! Tínhamos agora reunido uma tropa de cerca de 15 voluntários. Cerveja puxa cerveja, ficámos por ali a noite toda em alegre cavaqueira e foi uma das melhores noites destas duas semanas.
Dia 12, 17 de Abril
‘Tá a mexer outra vez! Siga para Tulcea, onde não temos onde dormir! Pelo caminho, parámos para admirar um “rio” de árvores – coisa danubiana, suponho – ali, à beira da estrada, uma zona meio pantanosa, onde as árvores se erguem da água, muitas delas tendo sido decapitadas, criando assim uma imagem surreal.
Chegadas a Tulcea, desta vez a nossa estratégia de conhecer malta local que nos dê abrigo não resultou, em parte porque não estávamos com espírito para travar conhecimento com novas pessoas. Estávamos cansadas, depois de um passeio em torno de um grande lago artificial que há nesta cidade, onde andámos à procura de sapos – prova superada, encontrámos imensos. Desta vez tivemos mesmo que dormir no carro e, acreditem, não foi um sono recuperador…
Dia 13, 18 de Abril
O grande dia chegou: fomos dar uma volta de barco pelo Danúbio. Custou-me gastar este dinheiro, confesso… em euros, foram só 17, não é assim tanto para 4 horas de passeio e o homem até só nos cobrou 3 horas, porque viu que a malta é jovem e tal, mas o meu orçamento já não estava em grande forma para suportar esta despesa. Todavia, valeu bem a pena e voltava a pagar para ver a paisagem luxuriante do Danúbio de tão perto. No início, parecia que eram só mais uns canais rodeados das mesmas árvores que vi em Brăila, mas quando começámos a embrenhar-nos em canais mais pequenos e começaram a surgir pássaros por todo o lado, em grande número, e vimos as árvores apinhadas de ninhos onde as zelosas mães chocavam os ovos… Fiquei realmente espantada, vale a pena visitar o Danúbio, é natureza pura, é um cenário incrível. E dorme-se uma boa sesta no barco, já agora, mas recomendo-a apenas para o retorno da viagem.
Como a nossa estadia em Tulcea nos tinha saído furada, pedimos encarecidamente ao nosso anfitrião em Constanța que nos acolhesse um dia mais cedo, o que felizmente ele aceitou. Depois de andarmos perdidas pelas confusas ruas de sentido único dessa cidade à beira-mar, chegámos finalmente à nossa casa para os próximos 2 dias.
Dia 14, 19 de Abril
Acordámos e vimos o mar. Soube-me mesmo bem, o rapaz tem um apartamento com uma localização excelente. A Vanessa teve de ir embora mais cedo, por isso neste dia éramos apenas 3 e tentámos seguir o plano inicial: ir a Eforie Nord para experimentar os banhos de lama. Sem carro, fomos à boleia e quando um carro parou, os seus ocupantes devem ter visto em mim uma expressão engraçada: quando olhei eram dois polícias, pensei que não tinham parado para nos levar e fiquei com cara de parva, claro. Mas tinham parado para nos dar boleia e foram muito simpáticos, levando-nos até um destino que veio a revelar-se decepcionante. Os banhos de lama só abrem na época alta, por isso demos meia volta ao cavalo e regressámos a Constanța. O homem que nos deu boleia era muito simpático, tão simpático que se ofereceu para nos levar ao centro da cidade, mas primeiro tinha de parar no jardim zoológico (um zoo pequeno) onde tinha trabalho para fazer. Olha que chatice, entrar à borla no zoo e ainda ver o treino dos golfinhos!! Quando nos dirigíamos para o centro, ele disse-nos: “Vão à marina e procurem um pequeno barco azul junto a dois grandes barcos brancos, onde estará um homem muito gordo. Falei com um amigo e ele mostra-vos o barco, se quiserem”. Ok, porque não? Passeámos pela cidade, que não tem nada de especial para ver para além do antigo e negligenciado Casino. Um edifício muito bonito, que é como que a imagem da cidade e tem os vidros partidos, a tinta cascada… uma pena. Depois, fomos procurar o tal barco, que estaria perto do barco da polícia marítima. Estava difícil de encontrar, até que um homem muito gordo nos chamou. E era mesmo o barco da polícia! Convidou-nos para entrar, vimos o interior (que não era muito grande) e perguntou se queríamos dar uma voltinha no barco de resgate. Se queremos??? Sigaaaa! Vestimos os coletes, agarrámo-nos bem ao barco e lá fomos nós. Juro que por momentos pensei que ia saltar borda fora. O barquito era tão rápido que a adrenalina disparou e só conseguíamos rir. Foi o momento alto do dia e até um dos momentos altos da viagem. Que sensação brutal! Estivemos mais um bocado à conversa com os senhores agentes marítimos e fomos para casa, sentindo que a viagem que agora chegava ao fim tinha valido a pena. Só pela voltinha de barco, já valia a pena.
Dia 15, 20 de Abril
Despedimo-nos do mar e começámos a pedir boleia. Não conseguimos um transporte confortável, porque tivemos de ir 3 em 2 lugares, numa carrinha de caixa aberta até Bucareste. A cerca de 100Km de casa, a coisa estava difícil: conseguimos muitos carros, mas para pequenas distâncias, o que alongou bastante a viagem. Ainda tivemos a sorte de um generoso senhor que parou pelo caminha para comprar pão nos oferecer dois pães. Cenas da vida na Roménia, digo eu. Chegar a casa soube bem, mas que bem, ao fim de 11h de viagem e duas semanas a saltar de casa em casa e de mochila às costas. As minhas viagens por cá estão a chegar ao fim… Mais uma e já está, já posso dizer que realmente conheço a Roménia.