Călătoria de Paște

Nestas férias da Páscoa saímos novamente da terrinha, desta vez durante 15 dias! Como a minha colega de casa conhece gente importante, arranjámos um carro à borla – um Volkswagen Jetta! Mas tivemos de ir buscá-lo a Bucareste… à Porsche!! (Imaginem a pinta: 4 miúdas com mochilas e sacos-cama a entrar no stand da Porsche…)

Dia 1-3, 6-8 de Abril

Era suposto começarmos a viagem apenas no Domingo e passar essa noite em Bucareste, mas o nosso anfitrião em Bucareste via Couchsurfing disse “Epá, que pena só virem nesse dia, é que a minha festa de anos é no Sábado à noite e vou fazer um churrasco no jardim e vamos ter música ao vivo…” Não seja por isso, jovem! E assim fomos para Bucareste (eu e a Gintare) na Sexta-feira. Tivemos sorte e conseguimos fazer esses 350Km só com 2 carros! Quando a Vanessa chegou também, fomos para casa, onde fomos recebidas com um refeição deliciosa cozinhada pela mãe dele. Um luxo! No dia seguinte, fomos visitar a cidade (Parlamento e centro histórico, mas muito por alto) e quando a Inma chegou e a equipa ficou completa e… siga para a festa! A jam session começou, mas talvez por eu estar habituada ao nível da malta de Pombal com quem tive o prazer de cantar inúmeras vezes, aqui a coisa deixou um bocadinho a desejar… Malta mais nova e inexperiente, mas sem dúvida acolhedora e simpática, o que resultou numa noite bem regada de tinto, música, riso e memorável. Divertimo-nos imenso e, por isso, o dia seguinte foi para descansar, até porque o centro de Buchareste estava a 12Km e 2 transportes públicos de distância…

Casa Poporului

Dia 4, 9 de Abril

Saímos de Bucareste em grande estilo no nosso carro branco tão catita e fomos em direcção a Buzău, para ver os vulções de lama. É uma coisa estranha, parece que estamos na lua, só que é tudo super pegajoso em redor das crateras, onde borbulha uma fria lama cinzenta. Como é que os vulcões funcionam? Não faço ideia. Google it!

Para esta noite, a dormida era incerta, estava prevista para Piatra Neamț, mas não tínhamos conseguido arranjar quem nos desse alojamento ali. O plano era, então, tentar conhecer malta local que fosse caridosa e nos acolhesse. Loucura, não? Pois, isso também pensei eu. Estacionámos no centro e tentámos encontrar um bar, mas a busca estava a resultar infrutífera, pelo que perguntámos a dois rapazes que estávam sentaditos num banco de jardim a beber cerveja (o que por acaso é proibido) se nos podiam indicar um bar porreiro ali perto e eles decidiram ir mostrar-nos o bar. Metro de cerveja na mesa, conversa puxa conversa, até que nos perguntaram onde é que íamos dormir… “Por acaso não temos onde dormir, estamos a pensar dormir no carro…” E um dos rapazes ofereceu-se logo para nos hospedar!! Que sorte do caraças, nem queria acreditar que o plano tinha resultado! E dormimos então no quarto dele, numa casa tipicamente rural, muito fria e eu e a Inma dormimos em dois cadeirões, voltados um para o outro, pouco estáveis, que não nos permitiram ter uma noite de sono tranquila. Todavia, foi melhor do que dormir no carro!

Dia 5, 10 de Abril

Seguimos para norte, para ver o afamado Lacu Roșu (Lago Vermelho). A paisagem é de tirar o fôlego… a estreita estrada passa por entre ravinas altíssimas, que parecem querer engolir-nos, numa subida serpenteante até ao lago. A subida acabou por ser o mais elevado ponto de interesse, pois que quando chegámos ao lago este estava completamente gelado e não era imenso como o imagináramos. Ainda assim, um cantinho do mundo bonito de se ver.

Ao deixarmos o lago, decidimos seguir as indicações de dois amigos que tinham visitado a zona no dia anterior e que nos falaram de uma igreja maravilhosa que não podíamos perder. Indicações essas que vieram a provar-se erradas… metemo-nos por uma estrada de serra cheia de neve com o carrinho de cidade, com pneus de verão, que nos devorou uma ou duas horas de viagem, seguindo a uma velocidade muito reduzida, esperando que o carro sobrevivesse às agruras daquele malfadado caminho.

Foi realmente um alívio sair da montanha e ver civilização, para seguir depois viagem até Târgu Neamț para visitar uma citadela surpreendentemente bem recuperada, cuidada e rentabilizada. Visita feita, siga para Suceava! Em Suceava, bebemos umas cervejas em casa com o nosso anfitrião e o amigo e fomos dormir que o corpinho já só pedia repouso.

Dia 6, 11 de Abril

De manhã bem cedo tivemos de sair, porque o Bogdan tinha de ir trabalhar… Seguimos caminho e começámos a tour dos mosteiros da região, Bucovina, famosos pelos seus frescos nas paredes exteriores das suas igrejas. Vimos alguns deles – três ou quatro – e são realmente algo de único, penso eu; a paisagem circundante é bonita (felizmente que fizemos esta viagem numa fase mais avançada da primavera em que tudo é mais verdejante); contudo, entrar nas igrejas em si já não nos provoca nada de novo, pois que me parece que as igrejas ortodoxas por dentro são todas iguais.

Excepção para um dos mosteiros, cujo interior é em tons de verde e vermelho e não azul e vermelho como todas as outras que já vi até agora (e acreditem, já vi muitas).

Visita feita, nesta noite dormimos em Iași, onde vivem alguns colegas voluntários e assistimos a música ao vivo num bar chamado Taverna, uma banda muito porreira de nome Sukar Nation, que nos pôs todos aos pulos (com a ajuda de uma quantas Timișoreanas, a cerveja que sempre nos acompanha). E, claro, tinham de tocar esse êxito internacional que me persegue: “Assim você me mata”. Imaginem quantas vezes já me perguntaram o que é que a letra desta música significa…

Dia 7, 12 de Abril

Acordar não foi o melhor deste dia, a noite tinha sido dura… Mas ainda assim fomos dar uma volta para ver a cidade. Nada de impressionante, meia dúzia de edifícios interessantes, só que depois de ver toda a Roménia (ou quase, vá) já nada me parece muito diferente, já não é fácil de me impressionar. O que me impressionou foi a quantidade de igrejas que existem perto umas das outras, no centro, e observar os hábitos ortodoxos. As igrejas tinham colunas no exterior, para que mesmo na rua as pessoas possam ouvir a missa. Entrámos numa igreja – penso que a maior de todas – e era, surpreendemente, lindíssima, dourada, diferente e o coro estava a cantar quando entrámos. A sensação foi poderosa, mesmo para uma pessoa não religiosa como eu. A acústica era impressionante, consegui sentir as vibrações da música, foi um momento que prolonguei porque me senti muito bem ali. Vimos mulheres, com lenços a cobrir os cabelos, de um lado, homens do outro, uma ou outra pessoa sentada no chão, em prece – nas igrejas ortodoxas não há bancos como nas católicas, são totalmente vazias – e mesmo fora da igreja vimos pessoas sentadas a ouvir a missa. Todas as igrejas que vimos estavam rodeadas de gente neste momento, num movimento de fé que me impressionou.

Dia 8, 13 de Abril

De manhã, a Gintare, a Vanessa e a Inma foram à boleia para Chișinău, capital da República da Moldova, para no dia seguinte irem até Odessa, na Ucrânia. Eu, como quis poupar os 60€ que custa o passaporte, fiquei em Iași… Foi um bocado estranho, porque não tenho assim tanto à-vontade com os dois voluntários que vivem lá e a rapariga que vive com eles, nem a conhecia. Houve momentos em que foi extremamente aborrecido e até um pouco desconfortável, mas também passei bons momentos, como a tarde que passei com o André  – sentados a apanhar sol em frente da casa e a beber umas cervejas, à conversa. Ou um serão de jogos com a Zoe (a rapariga que vive com eles) e o namorado.

Dia 9-10, 14-15 de Abril

Domingo de Páscoa ortodoxa. Belo dia para andar à boleia… ou não! Estávamos com receio de não arranjarmos boleia para Brăila, porque ainda são uns 250Km, por isso saímos de manhã bem cedo e eu acabei por ir com a Zoe e a Lise com o André. No final de contas, tudo correu muito bem, a primeira alma caridosa ainda nos perguntou se tínhamos dinheiro para comprar comida, pois se não tivessemos ele dava-nos; o segundo era um futuro padre; o terceiro era um casal muito simpático. E já está! Reunimo-nos no apartamento de umas colegas voluntárias em Brăila, onde já estavam alguns dos meus colegas de projecto e mais uns quantos, a casa parecia que ia rebentar pelas costuras! À tarde, como de costume, fomos visitar a cidade, que parece ter sido esquecida e abandonada, com tantos edifícios bonitos a cairem de podres e fomos ainda passear à beira do Danúbio. Agradável, mas muito sujo. Ainda não me consegui habituar ao lixo por todo o lado, é uma pena que as pessoas não tenham respeito pelo que é delas. E adivinhem o que fizemos nessa noite? Não, ainda não foi neste dia que fomos para os copos, nesta noite assisti a uma sessão incrivelmente interessante e estimulante em que as raparigas estiveram a fazer tererés umas à outras…

O Relógio Azul de Braila

O Relógio (muito) Azul de Braila

Dia 11, 16 de Abril

Dia de churrasco à beira do Danúbio! Atravessamos o rio de ferry para chegarmos à ilha onde íamos fazer uma churrascada. Comemos, bebemos, enfim, o normal num churrasco. Quando terminámos, fomos até um bar e esperámos por mais pessoal que ia chegar nesse dia e finalmente as minhas colegas de viagem regressaram! Tínhamos agora reunido uma tropa de cerca de 15 voluntários. Cerveja puxa cerveja, ficámos por ali a noite toda em alegre cavaqueira e foi uma das melhores noites destas duas semanas.

Dia 12, 17 de Abril

‘Tá a mexer outra vez! Siga para Tulcea, onde não temos onde dormir! Pelo caminho, parámos para admirar um “rio” de árvores – coisa danubiana, suponho – ali, à beira da estrada, uma zona meio pantanosa, onde as árvores se erguem da água, muitas delas tendo sido decapitadas, criando assim uma imagem surreal.

Chegadas a Tulcea, desta vez a nossa estratégia de conhecer malta local que nos dê abrigo não resultou, em parte porque não estávamos com espírito para travar conhecimento com novas pessoas. Estávamos cansadas, depois de um passeio em torno de um grande lago artificial que há nesta cidade, onde andámos à procura de sapos – prova superada, encontrámos imensos. Desta vez tivemos mesmo que dormir no carro e, acreditem, não foi um sono recuperador…

Dia 13, 18 de Abril

O grande dia chegou: fomos dar uma volta de barco pelo Danúbio. Custou-me gastar este dinheiro, confesso… em euros, foram só 17, não é assim tanto para 4 horas de passeio e o homem até só nos cobrou 3 horas, porque viu que a malta é jovem e tal, mas o meu orçamento já não estava em grande forma para suportar esta despesa. Todavia, valeu bem a pena e voltava a pagar para ver a paisagem luxuriante do Danúbio de tão perto. No início, parecia que eram só mais uns canais rodeados das mesmas árvores que vi em Brăila, mas quando começámos a embrenhar-nos em canais mais pequenos e começaram a surgir pássaros por todo o lado, em grande número, e vimos as árvores apinhadas de ninhos onde as zelosas mães chocavam os ovos… Fiquei realmente espantada, vale a pena visitar o Danúbio, é natureza pura, é um cenário incrível. E dorme-se uma boa sesta no barco, já agora, mas recomendo-a apenas para o retorno da viagem.

Como a nossa estadia em Tulcea nos tinha saído furada, pedimos encarecidamente ao nosso anfitrião em Constanța que nos acolhesse um dia mais cedo, o que felizmente ele aceitou. Depois de andarmos perdidas pelas confusas ruas de sentido único dessa cidade à beira-mar, chegámos finalmente à nossa casa para os próximos 2 dias.

Dia 14, 19 de Abril

Acordámos e vimos o mar. Soube-me mesmo bem, o rapaz tem um apartamento com uma localização excelente. A Vanessa teve de ir embora mais cedo, por isso neste dia éramos apenas 3 e tentámos seguir o plano inicial: ir a Eforie Nord para experimentar os banhos de lama. Sem carro, fomos à boleia e quando um carro parou, os seus ocupantes devem ter visto em mim uma expressão engraçada: quando olhei eram dois polícias, pensei que não tinham parado para nos levar e fiquei com cara de parva, claro. Mas tinham parado para nos dar boleia e foram muito simpáticos, levando-nos até um destino que veio a revelar-se decepcionante. Os banhos de lama só abrem na época alta, por isso demos meia volta ao cavalo e regressámos a Constanța. O homem que nos deu boleia era muito simpático, tão simpático que se ofereceu para nos levar ao centro da cidade, mas primeiro tinha de parar no jardim zoológico (um zoo pequeno) onde tinha trabalho para fazer. Olha que chatice, entrar à borla no zoo e ainda ver o treino dos golfinhos!! Quando nos dirigíamos para o centro, ele disse-nos: “Vão à marina e procurem um pequeno barco azul junto a dois grandes barcos brancos, onde estará um homem muito gordo. Falei com um amigo e ele mostra-vos o barco, se quiserem”. Ok, porque não? Passeámos pela cidade, que não tem nada de especial para ver para além do antigo e negligenciado Casino. Um edifício muito bonito, que é como que a imagem da cidade e tem os vidros partidos, a tinta cascada… uma pena. Depois, fomos procurar o tal barco, que estaria perto do barco da polícia marítima. Estava difícil de encontrar, até que um homem muito gordo nos chamou. E era mesmo o barco da polícia! Convidou-nos para entrar, vimos o interior (que não era muito grande) e perguntou se queríamos dar uma voltinha no barco de resgate. Se queremos??? Sigaaaa! Vestimos os coletes, agarrámo-nos bem ao barco e lá fomos nós. Juro que por momentos pensei que ia saltar borda fora. O barquito era tão rápido que a adrenalina disparou e só conseguíamos rir. Foi o momento alto do dia e até um dos momentos altos da viagem. Que sensação brutal! Estivemos mais um bocado à conversa com os senhores agentes marítimos e fomos para casa, sentindo que a viagem que agora chegava ao fim tinha valido a pena. Só pela voltinha de barco, já valia a pena.

Depois da tempestade, vêm as conchas, os búzios... De momento, não se recomenda caminhar descalço.

Dia 15, 20 de Abril

Despedimo-nos do mar e começámos a pedir boleia. Não conseguimos um transporte confortável, porque tivemos de ir 3 em 2 lugares, numa carrinha de caixa aberta até Bucareste. A cerca de 100Km de casa, a coisa estava difícil: conseguimos muitos carros, mas para pequenas distâncias, o que alongou bastante a viagem. Ainda tivemos a sorte de um generoso senhor que parou pelo caminha para comprar pão nos oferecer dois pães. Cenas da vida na Roménia, digo eu. Chegar a casa soube bem, mas que bem, ao fim de 11h de viagem e duas semanas a saltar de casa em casa e de mochila às costas. As minhas viagens por cá estão a chegar ao fim… Mais uma e já está, já posso dizer que realmente conheço a Roménia.

Budapeste

Dia 22 de Março, depois de almoço, lá estava eu, a Inma e a Vanessa à saída de Bumbești-Jiu a pedir boleia, com destino a Arad. 6 horas e 4 ou 5 carros depois, lá chegámos, sem grandes problemas. (Já somos pros, deve ser isso). Nessa noite, ficámos em casa de uns amigos nossos, também voluntários, que já nos tinham recebido aquando da viagem de Janeiro. Desta vez, estavam lá todos e foi uma noite porreira passada à conversa e, claro, acompanhados de umas belas litrosas de cerveja.

Na manhã seguinte, às 10h00, seguimos para Budapeste. O que me irrita nisto de andar à boleia (que agora já é quase tudo) é o facto de ser tão difícil e moroso entrar e sair de uma cidade (o que no caso de Pombal, não seria grande problema, faz-se bem a pé, mas em cidades maiores é uma canseira). Tivemos de andar uns 15 minutos, apanhar um autocarro (não pagámos, mas este era mesmo gratuito) e, com tudo isto, lá se foi uma hora. Apesar de tudo, pode-se dizer que até tivemos sorte. Chegámos à fronteira (Nadlac/Nagylak) e arranjamos boleia com um rapaz da nossa idade que ia passar por Budapeste e que conduzia a uma velocidade altamente conveniente para nós e que nos permitiu recuperar bastante tempo. Para além disso, era auto-estrada (coisa que na Roménia é quase um mito).

Só não foi tão porreiro o sítio onde ele nos deixou… ficámos numa zona industrial um pouco afastada do centro, mas lá nos safámos porque encontrámos uns trabalhadores que nos disseram que havia um autocarro e que “bilhetes… hummmm… não é preciso, não deve haver problema”. (Pormenor: é proibido fumar nas paragens de autocarro e até dois metros de distância. Sim, ao ar livre). Chegámos a Budapeste, apanhámos um metro para o centro onde íamos ficar em casa de um australiano via Couchsurfing. Encontrámos-nos então com o Adrian e com o Trond (um cão muito meigo tipo coisinha mai’ linda e fofa que não chateia ninguém) e fomos passear pela cidade. Fomos até uma colina onde desfrutámos de uma vista magnífica sobre a cidade e vimos também o pôr-do-sol. Tivemos muita sorte com o tempo, estava sol e calor. Já vos andava a invejar a sorte aí por Portugal, mas agora já deu para ter um gostinho do verão.

Cada vez gosto mais do Couchsurfing, porque o Adrian proporcionou-nos um fim-de-semana fantástico: mostrou-nos sítios onde comer a bons preços (cheguei a pagar por um jantar e uma caneca de cerveja cerca de 7€ – já agora, provei Goulash e recomendo, embora o sabor me lembrasse uma variante da nossa jardineira), levou-nos a conhecer alguns bares porreiros, com decorações muito interessantes e que me fizeram lembrar bastante do Cabaret (não que fossem parecidos, porque nada é igual ao Cabaret, mas porque a ideia é a mesma: uma cadeira de cada cor, objectos adaptados a uma nova função, tudo muito low cost e com um efeito brutal) e guiou-nos pela cidade. Visitámos uma ilha que há no Danúbio onde quase não entram carros e que é, no fundo um parque enorme. Parecia Verão: pessoas a ler, de cerveja na mão, pessoal a correr (paletes de pessoas a correr!! Os húngaros devem ser muito saudáveis em Budapeste), pessoal a jogar à bola ou estendidos na relva a fazer um piquenique e muita gente a passear os cães – isto em todos os espaços verdes que visitámos, que não são poucos – até dá gosto ver os cães a brincar por todo o lado e tudo sempre limpo. Fomos também numa visita guiada, à turista, porque “ah e tal, é à borla”, embora fosse adequado dar gorjeta no final (nós fomos sovinas, pois claro, já se sabe como é a vida do voluntário), mas eu não gostei por aí além. A guia era especatular, com um forte sentido de humor, só que para mim uma visita básica de 2h30 e não passamos em frente ao Parlamento, que é o edifício mais emblemático da cidade…pareceu-me fraquinho o conteúdo da coisa. Enfim, para além disso éramos uns 40 turistas e eu não gosto muito de andar em rebanho. Quanto ao Parlamento, fomos visitá-lo, claro, e ainda por cima a visita guiada também é à borla (e disponível em bastantes línguas). E é simplesmente espantoso. Tanto por fora,como por dentro. Por fora, muitos de vós já devem ter visto, ao vivo ou em fotos. Por dentro é tão elaborado e colorido e grandioso e… lindo. Último dia em Budapeste: estateladas na relva num parque a descansar os pés (já não podia mais, já quase coxeava) e pudemos relaxar, sabendo que já tínhamos visto o que havia para ver.

Vai uma voltinha de autocarro?

Segunda-feira, às 7h da matina… ALVORADAAAAA!!!! Saímos de casa às 8h para tentar chegar a Bumbesti-Jiu nesse dia. Fizemos a viagem inversa e arranjámos vários carros para chegar à fronteira. E foi nesse momento que pensei “Ah! Como eu gosto da Roménia!”. É que tivemos de pedir boleia na auto-estrada para sair da Hungria e, como podem imaginar, porque simplesmente é proibido para na auto-estrada, não foi fácil! Ou melhor, até foi, superou todas as minhas expectativas. Ainda há pessoas que pisam traços contínuos e param na auto-estradas para ajudar três pobres raparigas que quase são levadas pelo vento fortíssimo que se fazia sentir nesse dia! A parte gira foi quando veio a carrinha da assistência e nos mandou embora e tentou (ou conseguiu?) tirar-nos uma foto, sabe-se lá porquê. Obviamente que assim que a carrinha se foi, nós voltámos à carga, tínhamos de sair dali e não tínhamos alternativa! E pronto, conseguimos chegar à fronteira. É impressionante como, chegando ao lado romeno, somos logo abordadas por pessoas a oferecerem os seus serviços de motorista: “Onde vão meninas? Podemos levá-las a Arad!” – a resposta que levam é sempre a mesma: “Não temos dinheiro”. Já em Arad, fomos à boleia de uma nova maneira castiça: um senhor, na casa dos 50, ou talvez já 60, parou a sua carripana estilo Peugeot 504, sem bancos atrás e nós ficámos ohar para a tralha que ele trazia: vários rolos de mangueiras, de vários tamanhos, uma máquina de café, e mais meia dúzia de bugigangas e a pensar onde é que ele planeava que nós coubessemos. Ele disse que não se importava e nós queríamos era zarpar, por isso eu e a Inma metemo-nos no meio das mangueiras e pelo caminho fomos ajeitando o nosso cantinho. Assim que ficámos confortáveis, dormimos uma sesta com o sol a bater-nos na moleirinha. Um mimo!

Para terminar a viagem em beleza, fomos à boleia com duas carrinhas que só tinham um lugar livre, o que foi um final altamente desconfortável, especialmente depois de tantas horas de viagem. O que nos vale são os infractores! Abençoados sejam!! E às 22h estávamos em casa, 12h  e 552km depois e nada preparadas para acordar às 7h30 no dia seguinte para ir falar com o sr. presidente da junta…

Marțișor

Na Roménia (e vi que na Bulgária têm uma parecida) têm uma tradição que eu acho gira: Marțișor. Quanto à ideia original associada, não seie xactamente qual é, mas o que me explicaram aqui é que no dia 1 de Março, quando aqui começa a Primavera, se oferecem as Marțișoare (umas pulseiras com fio branco e vermelho ou apenas o fio preso num alfinete de peito) e que deve ser usado até as folhas nas árvores começarem a aparecer- É um sinal de fertilidade, pelo que para os romenos é um “segundo dia da mulher” (neste dias as voluntárias do meu grupo e eu, claro, recebemos do nosso amigo Cyril um cravo vermelho!). Vê-se muita gente a usar este cordão sob diferentes formas e vê-se muita gente a vender flores na rua, assim como também no dia da mulher. Já agora, no Dia Mundial da Mulher, em Târgu-Jiu, as mulheres não pagaram para andar de autocarro. Não sei se a ideia é bem essa, mas está bem… Melhor do que numa das comunidades onde estão voluntários do meu grupo em que fizeram uma festa na escola com comida e bebida para celebrar o Dia da Mulher e, no final, os homens vão-se embora e as mulheres ficam a limpar…

Bem, deixo-vos uma imagem do tal cordão que quase toda a gente usa nesta altura:

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софия

Na passada Sexta-feira, 9 de Março, eu e a Vanessa apanhámos o comboio para Craiova às 5h22 para irmos para Dabuleni, a convite dos voluntários que vivem nessa zona, para participarmos na Global Village – uma festa intercultural, à semelhança do que fiz aqui em Bumbesti-Jiu, embora numa escala um pouco maior. Estava previsto eu ir cantar com um voluntário português, para apresentarmos Portugal, mas o sistema de som estava contra nós e acabámos por não apresentar nada, para além do stand com posters e informação acerca de Portugal.

Uma vez que íamos a Dabuleni, que fica a uns 15km da fronteira com a Bulgária, achámos por bem aproveitar para passar o fim-de-semana em Sófia! Não íamos muito bem preparados para a viagem, uma vez que nem sabíamos que tínhamos de atravessar a fronteira de ferryboat (feribot, para os búlgaros)! (Agora parece óbvio, visto que a fronteira entre a Roménia e a Bulgária é quase toda ela o Danúbio!). Lá fomos no ferryboat e começámos a pedir boleia logo a seguir.

A coisa não estava fácil para mim, para a Inma e o Cyril… sendo 3, não há tantos carros a parar. Para além disso, as lituanas e, por consequência, quem as acompanha, têm muita sorte, tanto que eu e a Inma já pensámos pintar o cabelo de loiro, para ver se a nossa sorte muda!

Chegados a Sófia, novo desafio: encontrar a casa da rapariga que nos iria acolher, via Couchsurfing, porque ela não tem telemóvel e temos de nos desenrascar só com a morada. Depois de muito andar, de seguirmos indicações erradas e ficarmos surpreendidos com a quantidade de gente que fala inglês (talvez por estarmos enfiados em terreolas há quase 7 meses), encontrámos o prédio e procurámos o sinal que a rapariga disse que iria pôr junto à sua campainha:

Pelo caminho, conseguimos ver parte da cidade, que nos tinham dito não ser nada de especial. E não é, de facto, maravilhosa, impressionante, incrível… Mas tem vários edifícios interessantes, um ou outro impressionante e, enfim, sentimo-nos bem na cidade. É simpática.

Esta foto não faz jus à grandiosidade da catedral, com as suas cúpulas douradas, incandescentes, e múltiplas cúpulas de um tom azul esverdeado, com 50 e tal metros de altitude e uma área... gigantesca. Por dentro, vá, é uma igreja ortodoxa muito grande.

O choque foi quando entrámos em casa da rapariga – que foi muito porreira por nos acolher aos 7, uns na cama, outros no chão – e nos deparámos com duas caixas de areia para os seus dois gatos (belíssimos, já agora), mas que exalavam odores pouco convidativos. Para além disso, uma vez que teríamos de dormir no chão, foi um bocado desagradável chegar ao quarto e observar que, não só estava muito desarrumado (tudo bem), não estava limpo. Ok, tudo se supera! Excepto a alergia a gatos da Inma (porque no Couchsurfing a rapariga não referiu nada acerca dos gatos e também não arranjámos outro sítio para ficar). Estava a começar bem!! Como o cheiro em casa era um bocado nauseabundo, fomos jantar fora e seguimos depois para o Art Hostel que tem um bar meio alternativo muito porreiro e onde conhecemos algumas pessoas.

No Domingo, a ideia era visitarmos Plovdiv, cidade que nos aconselharam e que, segundo umas fotos que vimos na internet, parecia mesmo interessante, com ruínas e um anfiteatro romano… Metemo-nos no autocarro para sair do centro (aqui também se anda bem sem pagar!), mas ainda assim estávamos num sítio manhoso, junto a uma via rápida. Ora alguma vez eu parava se fosse a 120/140Km/h? Pois, também os senhores condutores que vimos passar nesse dia pensaram o mesmo. E lá fiquei eu, a Inma e o Cyril à beira da estrada, aos saltos, a cantar, a rir e, passada uma hora, cabisbaixos, enregelados e danados. Fizemos uma pausa e voltámos à carga (nisto, já duas tinham seguido viagem – uma delas loira, claro) e entretanto dois outros colegas que tinham acabado de começar a pedir boleia ligaram-nos a dizer que tinham conseguido um carro. “Só podem estar a gozar comigo”… Mais meia hora e mandámos Plovdiv às urtigas, já eram quase 16h00 e nós a perder o nosso dia e a nossa alegria ali. Fomos conhecer Sófia, beber um кафе (café), comprar uns souvenirs… e depois de entrarmos numa mesquita, os nossos sorrisos regressaram como que por artes mágicas. E siga, cerveja prá frente.

Quando os outros chegaram, e a rapariga estava em casa para nos abrir a porta, fomos todos para casa, estoirados. Mas o Davide não estava satisfeito e achava que devíamos ir beber mais uma cerveja. E o rapaz até tinha razão, eram só umas 22h00 e nós somos jovens… Fui eu e a Sima, os outros já estavam mais na onda de dormir. Fomos a um bar num 4º andar (ou 5º? ) que estava vazio, e a pouco e pouco fomos dominando o espaço, começando logo à chegada, quando o dono nos ofereceu um shot. Podia jurar que aquilo era veneno; só quando nos ofereceram mais tarde um shot só de absinto… não, aquilo é que era veneno. E venham canecas de cerveja e que uma rodada seja à borla, se faz favor! Dormimos como bebés nessa noite. E de manhã, voltámos para a estrada para mais uma sessão de frustração, frio e receio de ficar a pé.

A coisa até correu bem desta vez, já era só eu e a Inma. A coisa correu pior para todos quando fomos apanhar o ferryboat e demorou 3 horas a vir… Nós tínhamos arranjado boleia com um caminoista muito simpático que nos levou até Craiova, onde esperávamos apanhar o comboio (que seria reembolsado pela associação mais tarde), contudo já era tarde para isso. Chegámos a Craiova e o motorista disse-nos: “Vou-vos deixar ali ao pé de um restaurante, há polícia por perto, há luz… Esta cidade é perigosa, vocês hoje já não vão mais à boleia! Isto é a Roménia, é só bandidos!”. (Sim, isto disse o motorista búlgaro). Eis quando se vira para nós e pergunta: “Aqueles não são os vossos amigos?” Era a Sima e o Cyril a pedirem boleia! E nesse momento parou um carro e acenámos-lhes e havia também espaço para nós! Agora sim, a nossa sorte mudava mesmo! Metemo-nos na parte de trás da carrinha, estilo Kangoo, junto com os materiais de construção (o que nos divertimos a tirar fotos com o capacete e o martelo…!). Mais tarde, a carrinha pára, abrem a porta de trás e quem era? As nossas duas outras colegas! Como é que é possível duas coincidências tão improváveis na mesma noite?! Seguimos, 5 atrás, a Sima à frente (o Davide tinha ido à boleia sozinho) até Rovinari e depois Târgu-Jiu, descarregando a malta. O rapaz que nos levou foi mesmo muito porreiro. E, claro, chamou-nos doidos.

Uff… não sei se me apetece andar à boleia tão cedo. Quando for grande, quero ser uma rich bitch.

Pormenor engraçado: sabiam que na Bulgária acenam com a cabeça ao contrário de nós para dizer “sim” e “não”? Pois é, eu também não queria acreditar, mas quando vi e me senti confusa… não havia margem para dúvidas! Este pequeno pormenor criou algumas situações engraçadas, como por exemplo à boleia (“Plovdiv?” – acena que sim, meto à mão à porta, condutor diz “No, no, no!”), no restaurante (“Tem este prato?” – diz que sim, mas é não)… É giro.